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Quarta-feira, 23.03.16

"Diário I" de Miguel Torga

Torga, Miguel.1989 (7.a edição; 1.a edição em 1941). Diário (1.o volume). Coimbra

 

O primeiro volume, de um total de dezasseis, do "Diário" de Miguel Torga cobre o período que vai de 3 de Janeiro de 1932 a 15 de Agosto de 1941. A sua primeira edição data deste último ano.

O livro começa com curtas e irregulares participações, como que numa hesitação de início. Fez-me lembrar os tweets contemporâneos, na limitação, um tanto ascética, do número de palavras. Os textos vão ganhando, progressivamente, mais "corpo", registos novos e quase tocam o exercício do ensaio, algo que no segundo volume dos Diário será mais evidente. De quando em vez, uma poesia, como um lugar privilegiado de paragem e contemplação das paisagens que Torga pinta como se recorresse a um caderno de viagens.

Gosto de "diários", esse estilo quase epistolar que, mais que os demais tipos de registo escrito, nasce de uma inquietação, de uma necessidade de escrever. Por isso, amiúde me revejo no que leio, como é o caso desta passagem do viandante que, daqui e dali, não conhece já, verdadeiramente, a sua casa: "S. Martinho de Anta, 5 de Março de 1934 - Como a gente se perde! A linguagem que o meu sangue entende - é esta. A comida que o meu estômago deseja - é esta. O chão que os meus pés sabem pisar - é este. E, contudo, eu não sou já daqui. Pareço uma dessas árvores que se transplantam, que têm má saúde no país novo, mas que morrem se voltam à terra natal."

Particularmente interessantes, seja no presente volume, seja no volume II, são as referências críticas à literatura. A título de xemplo, escolhi este "quadro" que é como uma pintura de Malhôa (1855-1933): "Coimbra, 14 de Outubro de 1937 - Este Camilo, com o devido respeito, lembra-me sempre uma romaria... Muita gente, muito vinho, música, a procissão solene com o Brasileiro que paga tudo à vara do pálio, a missa, o sermão, a menina que comunga, o homem da vermelhinha, o jantar na Residência, e o arraial à noite, com foguetes de lágrimas, onde se acaba tudo aos tiros e às facadas."

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por JNobre



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