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livros-abertos

uma bibliografia de trazer por casa



Sábado, 01.05.21

"A Praça de Liége" de António Rebordão Navarro

Praca_de_Liege navarro.jpg

Navarro, António Rebordão. 1988. A Praça de Liége. Círculo de Leitores. Lisboa

Há muitos anos que pretendia ler este livro, editado pelo Círculo de Leitores em 1988 e, quase desde então, nas prateleiras da minha pequena biblioteca. Fiz várias tentativas para o concretizar mas, num momento ou noutro, perdia-me na catadupa das palavras e desistia, voltando a pô-lo na devida ordem: no "N" de Navarro, secção da "literatura portuguesa". Com a minha mais recente incursão n'O Grande Porto, surgiu uma oportunidade que não podia perder. Mas apesar do pretexto, da súbita motivação, não posso dizer que tenha sido uma tarefa fácil. Na verdade, tive de o fazer em duas "levas", voltando atrás e à frente e, tomando notas escritas sobre os personagens, suas famílias e ligações. Porque a redação de Navarro lembra a pintura impressionista, a necessitar de distância para revelar a luz, a cor e, por fim, a forma dos ambientes narrados. Cada longo parágrafo compõe-se de uma profusa sugestão de imagens, cores, cheiros e movimentos, que apelam à nossa experiência sensorial, para construir quadros que evoluem como se percorrêssemos um salão de exposições ou vislumbrássemos as cenas de um filme, não sem nos exigir uma permanente vigilância, para que não se perca o "fio" narrativo da ficção.

O romance gira à volta das casas, das gerações, das famílias, residentes na Praça de Liége e suas imediações, nos anos de 1939/1940: os Aljezur, os Carvalhais, os Câmara Dias, os Bresson de Andrade. De entre todos os personagens destacam-se duas figuras femininas: Frederica Bresson de Andrade e Eduarda Câmara Dias.

Frederica atravessa as páginas do romance como uma diva de cinema, que por aqueles anos surgia, assumindo um feminismo mal pressentido, e uma vida social cosmopolita, quase escandalosa, para os critérios do tempo. Como em outros personagens desta época, de outros romances e filmes, a sua irreverência esconde a sua verdadeira fragilidade. Irrompe, provocante, numa viagem de elétrico mas termina num quarto obscuro, derrotada por sucessivos insucessos nos relacionamentos amorosos. Não surpreende que outras mulheres desdenhem da sua beleza e atitude, julgando o ser caráter pelo modo como veste e se comporta para, no final percebermos quanta generosidade sempre guardou no seu coração.

Por sua vez, Eduarda apresenta-se-nos relativamente discreta, cortesã, fada-do-lar, com seus dotes de bem receber. O romancista consegue manter-nos suspensos do seu secretismo, quase irrelevância, por contraste com Frederica, até nos levar a um desfecho surpreendente.

Para quem conhece estes bairros do Porto, é saboroso percorrer estas ruas ora íngremes, ora paralelas às margens da Foz do Douro, fazendo da "Praça de Liége" muito mais que uma simples praça, mas todo um "passeio alegre", uma "luz" de sol posto à beira-mar, à beira-rio, na agitação natural da sua paisagem de vento, vagas e jardins, caminhantes, viaturas e carros elétricos...

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por JNobre



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