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uma bibliografia de trazer por casa
Linha editorial: propósitos e metodologia.
Bessa-Luís, Augustina: Fanny Owen
Navarro, António Rebordão: A Praça de Liége
Steinbeck, John: A um Deus Desconhecido
Torga, Miguel: Diário I; Diário II; Diário III; Diário IV. O Senhor Ventura
Vásquez, Juan Gabriel. 2021. Volver la vista atrás. Alfaguara. Madrid
Amaral, Paula. 2019. Sentir a Magia do Douro (romance). Braga (?). ISNB: 978-989-20-9375-8
Barreto, António. 2020. Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares. Relógio D' Água Editores. Lisboa. ISNB: 978-989-783-022-8
Belo, Aníbal. 2001. Carta de Marvão. Universidade Fernando Pessoa. Porto. ISBN: 972-8184-66-2
Horta, Maria Teresa. 2016. Anunciações. autora e Publicações Dom Quixote. ISBN: 978-972-20-6033-2
"Amadeo" de Mário Cláudio, levou-me por viagens ao baixo-tâmega onde senti a presença de Agustina Bessa-Luís a cada passo. Com dificuldade, é certo, terminei a leitura de "Amadeo" e estive por demasiado tempo distraído com leituras avulso. Mas um dia fui ao Porto. E visitei a "cadeia da relação" onde descobri Camilo, numa cela, olhando da janela alta e engradada, o bairro da Sé e a Serra do Pilar. Decidi-me a "ler" o Porto começando por "Uma família inglesa" de Júlio Diniz. Daí voltei a Agustina e a Camilo, através de "Fanny Owen". Se Mário Cláudio vestiu um dos seus personagens de Amadeo de Souza-Cardoso, Agustina ficcionou o "seu" Camilo. Apeteceu-me, então ler o Saramago de José Luís Peixoto...
"...descobri Camilo, numa cela, olhando da janela alta e engradada, o bairro da Sé e a Serra do Pilar."
Mas outros dois caminhos de leitura ficam por explorar: "A Praça de Liége", de António Rebordão Navarro (1988, Círculo de Leitores), o mesmo Porto lúgubre, burguês, cosmopolita, ensimesmado e "Werther" de Goethe, livro citado por Agustina a propósito da relação de Camilo com Fanny.
Vásquez, Juan Gabriel. 2021. Volver la vista atrás. Alfaguara. Madrid
"Tropecei" neste romance quando escutava um programa de rádio e, a partir daí, me decidi a adquri-lo e a lê-lo na versão original. A leitura, em língua castelhana, fez-me sentir mais próximo do autor e dos seus retratados. E de facto, estando disponíveis na "internet" tantos documentários, em vídeo, com a participação do autor, Juan Vasquez, e de Sérgio Cabrera, a figura central do livro, a leitura fez-se como uma experiência de proximidade: como se eu mesmo os pudesse escutar.
O livro começa por ter um enorme interesse pela sua originalidade. Porque não se trata de uma biografia de qualquer dos personagens, ainda que da vida deles se trate e estejamos perante histórias verdadeiras, vividas por quem se encontra, ainda e felizmente, entre nós. Trata-se de um "documentário" sobre uma significativa parte da vida do cineasta colombiano Sérgio Cabrera, cujas origens familiares estão em Espanha mas cedo se transferem para a Colômbia, terra de exílio mas, também, pátria de adoção. Redigido em tonalidade de romance, não chegar a ser, propriamente, uma ficção. A partir de depoimentos do próprio Sérgio, primeiro, e de algumas das pessoas que com ele se cruzam, no desenrolar do livro, somos levados a testemunhar uma história pessoal que atravessa continentes e, sobretudo, se refere a um período da história da Colômbia ainda não completamente encerrado: a luta entre as milícias da guerrilha maoista, colombiana, e o Estado.
Uma relativa extensa parte do livro reporta ao tempo de formação de Sérgio Cabrera e de sua irmã, Marianella, em Pequim, antes e durante a "revolução cultural". A leitura destes capítulos fez-me revisitar "Cisnes Sevagens" de Jung Chang e "Adeus minha concubina" de Lilian Lee. Todos estes livros fazem parte da minha experiência "china", a partir da nossa passagem por Macau, onde vivemos de 1994 a 1998.
Por sua vez, quando se narra o percurso dos protagonistas na guerrilha amazónica, revisitei "Até o silêncio tem um fim" relato, na primeira pessoa, do cativeiro de Ingrid Betancourt, na floresta Amazónica, de 2002 a 2008.
Estes parcos apontamentos não traduzem, de modo algum, o prazer que a leitura deste livro de 475 páginas me proporcionou. Durante as horas de entrega à leitura, senti-me verdadeiramente envolvido, interessado, absorto. Das vidas, absolutamente singulares, da família Cárdenas Cabrera - Fausto, o pai, Luz Elena, a mãe, Sérgio e Marianella, os filhos - desprende-se uma honestidade voluntariosa, por vezes ingénua, com que nos identificamos. Através deles, revivemos os tempos de utopia e de amargura que foram as experiências "revolucionárias" dos anos 60/70 do século passado, projetos sociais que muitos de nós subscreveram, mesmo se com militâncias pouco comprometidas.
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