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uma bibliografia de trazer por casa
Sepúlveda, Luís. 2016. História de um cão chamado Leal. Ilustrações de Paulo Galindro. Porto Editora.
Após Patagónia Express e O velho que lia romances de amor, este terá sido o terceiro livro de Sepúlveda que li. É, em qualquer caso, um livro diferente. Poderia defini-lo como um livro triste. Espero não ter sido influenciado pelo estado de prostração física que experimentei na tarde em que o fiz, mas é um facto que me deixou tão deprimido quanto encantado.
Sepúlveda tem, herdado dos seus ancestrais, sangue "mapuche" e esta é a sua versão de uma história que ouviu narrar a um seu tio-avó, na tradição das milenares culturas orais. A história em si, nada tem de original mas Luís Sepúlveda inova, desde logo, porque o narrador é o próprio cão, Leal de seu nome e caráter inscrito como se de uma profecia a cumprir se tratasse. Do início ao fim da curta narração, jamais deixamos a pele deste pastor-alemão. Nele farejamos, passamos fome e frio, sofremos violências. Nele sentimos os cheiros e os afetos que nos guiam e motivam. Rasteirinhos, talvez, mas muito dignos e ricos. Pouco importa se foi curta a vida (eventualmente interrompida) que vivemos, contanto que tenha sido vivida com integridade, arte e nobreza de caráter.
Uma palavra para as ilustrações de Paulo Galindro: são belíssimas e alcançam uma rara integração narrativa com o texto. Não são ilustrações do conto, mas a atmosfera em que as palavras evoluem. São, além disso, uma forte evocação do "realismo mágico" ambiente literário dos maiores romances latino-americanos do final do século XX.
Não fora a tonalidade dolorosa, dominante, e eu diria que, apesar da tristeza que perpassa, é um belo livro, no sentido literal da expressão.
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