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Segunda-feira, 10.03.14

"A Cidade do Fim" de Miguel Real

Real, Miguel. 2013. A Cidade do Fim. Lisboa: D. Quixote

 

Li este livro com o propósito de revisitar a Cidade do Santo Nome de Deus, esse Porto Interior a que acostei há 20 anos e onde me foi dado viver, de 1993 a 1998, cinco anos dos mais intensos e interessantes da minha vida. Mas, à semelhança do que então experimentei em Macau, nem sempre me foi confortável ler este romance. Com uma pontuação ousada, irreverente (a fazer lembrar a heterodoxia suprema que, também nesta matéria, constituiu "O Memorial do Convento", de José Saramago) o livro é, ao mesmo tempo, o relato de uma estória de amor e um registo da história de Macau, último dos territórios do extinto "império" português. Percebe-se que Miguel Real estuda, antes que escreva e é, neste sentido, como um académico pois, de passagem, cita as suas fontes. Neste caso, parece claro que a sua principal inspiração é o padre Joaquim Caetano (séc. XVII) cronista àcerca do qual o autor manifesta a sua simpatia quando refere a postura, pragmática e tolerante, do missionário jesuíta. O romance constitui-se aliás, a partir de uma pretensa biografia de Fátimo Martins, recorrendo a um estilo epistolar semelhante, no ritmo narrativo, ao dos assentos renascentistas.

O romance está organizado em 23 capítulos, tantos quantas as letras do alfabeto português, o que constituirá uma forma de homenagem, de entre outras, à língua lusa. O fim da Cidade (do Santo Nome de Deus) será, simbolicamente, o termo do ciclo iniciado pela publicação de "Os Lusíadas".

O primeiro capítulo reporta ao ano de 1916, o ano das "aparições" marianas de Fátima e do nascimento de Fátimo Martins, o protagonista do romance. O autor revela conhecimentos profundos dos relatos dos acontecimentos ocorridos na Cova de Iria, Ourém. Situa o nascimento de Fátimo no Barreiro, à sombra da fábrica de produção de ácido sulfúrico, numa das unidades da CUF, Companhia União Fabril. Ali trabalha o pai de Fátimo Martins sob as orientações do senhor engenheiro, francês, na casa de quem serve a mãe. Analfabeta, a mãe de Fátimo vive os acontecimentos de Vila Nova de Ourém através da mulher do engenheiro, também francesa de nacionalidade. O casal de franceses viria a apadrinhar o filho do casal Martins que todos pensavem ser uma menina, até à hora do nascimento.

Vinte e cinco anos depois, no ano de 1941, Fátimo chega a Macau. Haveremos de perceber que ali chegou por um acaso: o ter visto um anúncio no "placard" da escola secundária onde dava aulas. Começa por estabelecer-se na Casa Garden, primeiro refúgio, provisório, dos expatriados. Ali conhece Herculano Noronha-Pereira, timorense, sempre em busca de uma identidade, perdida na diáspora dos portugueses.

A narrativa levar-nos-á a seguir as vicissitudes da vida profissional, afetiva e familiar do nosso protagonista e, paralelamente, a história de Macau, até à véspera da transferência da administração do território de Portugal para a China...

 

Amostras:

"Macau fora um milagre, continua a ser um milagre, espontâneo, cuja duração se transformara numa necessidade, tão milagre fora que não espantara ter sido designada pelos portugueses como Cidade do Nome de Deus na China, não havia outra, de facto, Deus permitira a existência de Macau contra tudo e contra todos, sobretudo contra a força da História,..." (pág. 93)

 

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por JNobre


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