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Matos, Helena. 2013. Os Filhos do Zip-Zip. Lisboa: A Esfera dos Livros

Cada página deste livro é uma incursão na minha própria adolescência e juventude. Sim, também eu sou "filho do Zip-Zip", isto é, sou da geração que viu surgir a televisão em Portugal e que construiu a sua visão do mundo através dessa pequena janela de luz. A geração que, por esse meio, viu o primeiro homem na lua; viu, a preto-e-branco, oradores como Marcello Caetano, Vitorino Nemésio ou o maestro António Vitorino d'Almeida, dissertarem sobre política nacional, cultura ou música. A geração que se aproximou do folclore, da etnografia e do mundo rural, através de personalidades como Pedro Homem de Melo, Michel Giacometi e José Sousa Veloso. A geração que conhecia Jorge Alves, apresentador do "Cartaz TV", como se fora visita-da-casa e Vasco Granja como o adulto que gostava de desenhos animados. Sou da geração de Duffy Duck, Popeye e Mighty Mouse.

É verdade que o país parava para ver o Zip-Zip. Pelo menos o meu. Mas também parava para ver o Bonanza, o Fugitivo e, um pouco mais tarde, a Gabriela.

Fazendo o percurso cronológico que vai, sensívelmente, de 1969 a 1974, este livro não fala só da televisão e pela televisão; percorre os factos socias e políticos mais relevantes da, por alguns historiadores, designada "primavera marcelista" (quando se referem aos anos da gorada abertura política que Marcello Caetano ensaiou, sem sucesso) recorrendo, também, à imprensa, como fonte documental. Assim, eu sou da geração que leu o primeiro número do Expresso, comprado nas mesmas bancas onde, além de O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro, estavam as revistas de "quadradinhos" Mundo de Aventuras e Tin Tin, e aquelas que as senhoras traziam nas carteiras ou nas sacas das compras como a Crónica Feminina, a Modas & Bordados ou a Flama.

Composto, mais do que escrito, por uma das responsáveis pelos conteúdos da série de televisão E Depois do Adeus e dos programas de rádio Começar de Novo, que também passaram este ano, de 2013, o livro é um repositório, um pouco nostálgico, de um conjunto de temas que dominou a atualidade da época. Folheia-se com prazer e um sorriso nos lábios.