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livros-abertos

uma bibliografia de trazer por casa


Quarta-feira, 07.09.22

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Linha editorial: propósitos e metodologia.

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por JNobre

Quarta-feira, 07.09.22

Na estante: registo das leituras mais recentes

Bessa-Luís, Augustina: Fanny Owen

Navarro, António Rebordão: A Praça de Liége

Steinbeck, John: A um Deus Desconhecido

Torga, Miguel: Diário I; Diário II; Diário III; Diário IV. O Senhor Ventura

Vásquez, Juan Gabriel. 2021. Volver la vista atrás. Alfaguara. Madrid

 

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por JNobre

Quarta-feira, 07.09.22

Na estante: livros em lista de espera

Amaral, Paula. 2019. Sentir a Magia do Douro (romance). Braga (?). ISNB: 978-989-20-9375-8

Barreto, António. 2020. Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares. Relógio D' Água Editores. Lisboa. ISNB: 978-989-783-022-8

Belo, Aníbal. 2001. Carta de Marvão. Universidade Fernando Pessoa. Porto. ISBN: 972-8184-66-2

Horta, Maria Teresa. 2016. Anunciações. autora e Publicações Dom Quixote. ISBN: 978-972-20-6033-2

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por JNobre

Quarta-feira, 07.09.22

Leituras no "grande Porto": Camilo, Agustina e Cláudio

"Amadeo" de Mário Cláudio, levou-me por viagens ao baixo-tâmega onde senti a presença de Agustina Bessa-Luís a cada passo. Com dificuldade, é certo, terminei a leitura de "Amadeo" e estive por demasiado tempo distraído com leituras avulso. Mas um dia fui ao Porto. E visitei a "cadeia da relação" onde descobri Camilo, numa cela, olhando da janela alta e engradada, o bairro da Sé e a Serra do Pilar. Decidi-me a "ler" o Porto começando por "Uma família inglesa" de Júlio Diniz. Daí voltei a Agustina e a Camilo, através de "Fanny Owen". Se Mário Cláudio vestiu um dos seus personagens de Amadeo de Souza-Cardoso, Agustina ficcionou o "seu" Camilo. Apeteceu-me, então ler o Saramago de José Luís Peixoto...

Camilo_na_cadeia.jpg"...descobri Camilo, numa cela, olhando da janela alta e engradada, o bairro da Sé e a Serra do Pilar."

Mas outros dois caminhos de leitura ficam por explorar: "A Praça de Liége", de António Rebordão Navarro (1988, Círculo de Leitores), o mesmo Porto lúgubre, burguês, cosmopolita, ensimesmado e "Werther" de Goethe, livro citado por Agustina a propósito da relação de Camilo com Fanny.

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por JNobre

Quarta-feira, 07.09.22

"Volver la vista atrás" de Juan Gabriel Vásquez

Vover_La_Vista_Atras.jpg

Vásquez, Juan Gabriel. 2021. Volver la vista atrás. Alfaguara. Madrid

"Tropecei" neste romance quando escutava um programa de rádio e, a partir daí, me decidi a adquri-lo e a lê-lo na versão original. A leitura, em língua castelhana, fez-me sentir mais próximo do autor e dos seus retratados. E de facto, estando disponíveis na "internet" tantos documentários, em vídeo, com a participação do autor, Juan Vasquez, e de Sérgio Cabrera, a figura central do livro, a leitura fez-se como uma experiência de proximidade: como se eu mesmo os pudesse escutar.

O livro começa por ter um enorme interesse pela sua originalidade. Porque não se trata de uma biografia de qualquer dos personagens, ainda que da vida deles se trate e estejamos perante histórias verdadeiras, vividas por quem se encontra, ainda e felizmente, entre nós. Trata-se de um "documentário" sobre uma significativa parte da vida do cineasta colombiano Sérgio Cabrera, cujas origens familiares estão em Espanha mas cedo se transferem para a Colômbia, terra de exílio mas, também, pátria de adoção. Redigido em tonalidade de romance, não chegar a ser, propriamente, uma ficção.  A partir de depoimentos do próprio Sérgio, primeiro, e de algumas das pessoas que com ele se cruzam, no desenrolar do livro, somos levados a testemunhar uma história pessoal que atravessa continentes e, sobretudo, se refere a um período da história da Colômbia ainda não completamente encerrado: a luta entre as milícias da guerrilha maoista, colombiana, e o Estado.

Uma relativa extensa parte do livro reporta ao tempo de formação de Sérgio Cabrera e de sua irmã, Marianella, em Pequim, antes e durante a "revolução cultural". A leitura destes capítulos fez-me revisitar "Cisnes Sevagens" de Jung Chang e "Adeus minha concubina" de Lilian Lee. Todos estes livros fazem parte da minha experiência "china", a partir da nossa passagem por Macau, onde vivemos de 1994 a 1998.

Por sua vez, quando se narra o percurso dos protagonistas na guerrilha amazónica, revisitei "Até o silêncio tem um fim" relato, na primeira pessoa, do cativeiro de Ingrid Betancourt, na floresta Amazónica, de 2002 a 2008.

Estes parcos apontamentos não traduzem, de modo algum, o prazer que a leitura deste livro de 475 páginas me proporcionou. Durante as horas de entrega à leitura, senti-me verdadeiramente envolvido, interessado, absorto. Das vidas, absolutamente singulares, da família Cárdenas Cabrera - Fausto, o pai, Luz Elena, a mãe, Sérgio e Marianella, os filhos - desprende-se uma honestidade voluntariosa, por vezes ingénua, com que nos identificamos. Através deles, revivemos os tempos de utopia e de amargura que foram as experiências "revolucionárias" dos anos 60/70 do século passado, projetos sociais que muitos de nós subscreveram, mesmo se com militâncias pouco comprometidas.

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por JNobre

Sábado, 01.05.21

"A Praça de Liége" de António Rebordão Navarro

Praca_de_Liege navarro.jpg

Navarro, António Rebordão. 1988. A Praça de Liége. Círculo de Leitores. Lisboa

Há muitos anos que pretendia ler este livro, editado pelo Círculo de Leitores em 1988 e, quase desde então, nas prateleiras da minha pequena biblioteca. Fiz várias tentativas para o concretizar mas, num momento ou noutro, perdia-me na catadupa das palavras e desistia, voltando a pô-lo na devida ordem: no "N" de Navarro, secção da "literatura portuguesa". Com a minha mais recente incursão n'O Grande Porto, surgiu uma oportunidade que não podia perder. Mas apesar do pretexto, da súbita motivação, não posso dizer que tenha sido uma tarefa fácil. Na verdade, tive de o fazer em duas "levas", voltando atrás e à frente e, tomando notas escritas sobre os personagens, suas famílias e ligações. Porque a redação de Navarro lembra a pintura impressionista, a necessitar de distância para revelar a luz, a cor e, por fim, a forma dos ambientes narrados. Cada longo parágrafo compõe-se de uma profusa sugestão de imagens, cores, cheiros e movimentos, que apelam à nossa experiência sensorial, para construir quadros que evoluem como se percorrêssemos um salão de exposições ou vislumbrássemos as cenas de um filme, não sem nos exigir uma permanente vigilância, para que não se perca o "fio" narrativo da ficção.

O romance gira à volta das casas, das gerações, das famílias, residentes na Praça de Liége e suas imediações, nos anos de 1939/1940: os Aljezur, os Carvalhais, os Câmara Dias, os Bresson de Andrade. De entre todos os personagens destacam-se duas figuras femininas: Frederica Bresson de Andrade e Eduarda Câmara Dias.

Frederica atravessa as páginas do romance como uma diva de cinema, que por aqueles anos surgia, assumindo um feminismo mal pressentido, e uma vida social cosmopolita, quase escandalosa, para os critérios do tempo. Como em outros personagens desta época, de outros romances e filmes, a sua irreverência esconde a sua verdadeira fragilidade. Irrompe, provocante, numa viagem de elétrico mas termina num quarto obscuro, derrotada por sucessivos insucessos nos relacionamentos amorosos. Não surpreende que outras mulheres desdenhem da sua beleza e atitude, julgando o ser caráter pelo modo como veste e se comporta para, no final percebermos quanta generosidade sempre guardou no seu coração.

Por sua vez, Eduarda apresenta-se-nos relativamente discreta, cortesã, fada-do-lar, com seus dotes de bem receber. O romancista consegue manter-nos suspensos do seu secretismo, quase irrelevância, por contraste com Frederica, até nos levar a um desfecho surpreendente.

Para quem conhece estes bairros do Porto, é saboroso percorrer estas ruas ora íngremes, ora paralelas às margens da Foz do Douro, fazendo da "Praça de Liége" muito mais que uma simples praça, mas todo um "passeio alegre", uma "luz" de sol posto à beira-mar, à beira-rio, na agitação natural da sua paisagem de vento, vagas e jardins, caminhantes, viaturas e carros elétricos...

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por JNobre

Domingo, 07.06.20

"Fanny Owen" de Agustina Bessa-Luís

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Bessa-Luís, Agustina. 2002. Fanny Owen. Público. Porto

Para se apreciar um livro, é conveniente conhecer o seu autor, o ambiente em que se move e respira. Este conhecimento revela-nos a época, do livro e do autor, mas também pode ajudar a explicar, até certo ponto, qual o "propósito " de ambos. Este não é o primeiro livro de Agustina que leio. Por isso posso dizer que, apesar da sua escrita densa, me sinto bem no seu ambiente literário. Nem sei bem porquê. Leio-a com relativa fluídez, avançando com humildade como se desbravasse um terreno que me é desconhecido, sem medo de perder algumas das partes, em benefício do "todo", do "geral". Na verdade, posso ler um livro como faço uma viagem: absolutamente deslumbrado com quanto me é dado ver e desfrutar sabendo que o tempo apagará as marcas dessa experiência, assim que a leitura seja interrompida. Mas, exatamente como numa viagem, algo da sua luz, do seu perfume, do seu ambiente, ficará. E ressurgirá na memória quando se estabelecer uma qualquer relação com um outro livro, um outro autor, uma outra paisagem... Assim, para melhor compreender "Fanny Owen", seria conveniente conhecer melhor a sua  autora, ser capaz de a situar no contexto literário português ou até, talvez mais, no da literatura europeia. A mim, parece-me haver, na sua obra como neste livro, uma vertente fortemente "psi", que muito deve à emergência do freudianismo da época em que se formou. Há também um certo feminismo, muito complexo e sofisticado, que não se fecha num maniqueísmo convencional, "homem" versus "mulher", antes reflecte uma tensão criativa que parece cara a Agustina.

"Fanny Owen" é um livro perturbador que fala da tragédia humana e dos seus equívocos. O ambiente em que decorre é não apenas trágico como romântico, lírico e rústico, adequado ao século XIX a que se reporta. Algumas passagens (bastantes até) revelam-se impenetráveis, a exigir do leitor uma dissecação da frase, uma consideração cuidadosa de cada uma das palavras que a compõem, como se estivéssemos perante uma peça de arte "barroca", a desconstruir. O enredo transmite-nos uma permanente demanda de sentido, uma angustiada busca do "porquê", que jamais se encontra. Assim são, também, as desesperadas cavalgadas de José Augusto Magalhães pelas matas da Aboboreira, sem hora de partida ou de chegada...

Como num vulgar romance de amor (ainda que nada haja de vulgar neste romance) a história, baseada em factos reais, refere-se a dois triângulos amorosos: Francisca Owen (Fanny), José Augusto Magalhães e Camilo Castelo Branco, por um lado; Francisca, Maria  Owen (irmã mais velha de Fanny) e José Augusto, por outro. O erotismo é intenso, mas latente, não-explícito. Não surpreende que o próprio casamento de Fanny e José Augusto não chegue realmente a consumar-se, apesar da partilha de vida, de casas e de bens. Para escrever esta obra ficcionada, Agustina fez um cuidadoso trabalho de investigação. Consultou os escritos de Camilo Castelo Branco, espalhados por crónicas publicadas nos jornais da época, nos diários e nas obras de ficção; mas também os cadernos deixados pelos malogrados Francisca Owen e José Augusto. Assim, pôde imaginar ou reconstruir diálogos, cenários e deslocações, citando os apontamentos dos respectivos protagonistas, pondo-os, frequentemente a "falar", em discurso direto.

Apesar de não serem profundos os meus conhecimentos da obra de Camilo Castelo Branco, ao ler este livro fiquei, por vezes, com a sensação de que poderia ter sido ele a escrevê-lo. Talvez tenha sido esse um dos motivos que levou Manoel de Oliveira a realizar "Francisca" (1981) depois de ter realizado "Amor de Perdição" (1978).

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por JNobre

Quarta-feira, 28.08.19

"A um Deus Desconhecido" de John Steinbeck

Encontrei no "Nobel de 1962", Steinbeck, uma escrita "simples" e fluída que não esperava (desconfiando, embora, da tradução...). "A um Deus Desconhecido" é um romance. Mas é também como um ensaio sobre o animal religioso que é o Ser Humano nas suas diferentes culturas. O autor contempla a sua própria humanidade a partir do seu enorme respeito pelos fenómenos naturais (de Vida) que não compreende mas tenta interpretar, exatamente como o Ser Humano o faz há milénios. Nessa busca de respostas, realiza, por vezes, gestos mágicos que como que apaziguam a sua inquietação, sempre sem chegar a compreender a razão mais profunda das coisas. Pressente o seu Sentido mas nunca realmente explica o que aconteceu, porque aconteceu. Eis um exemplo:

O protagonista, Joseph Wayne, acaba de assistir, impotente, à queda fatal da sua querida companheira, Elyzabeth. "[Ele] sabia que o seu espírito não conseguia abarcar aquilo que acontecera. Tentou compreender. «Todas as histórias, todos os incidentes que constituem uma vida pararam num só segundo... as opiniões terminaram, a capacidade de sentir, tudo acabou sem significado.» Queria esforçar-se por perceber o que se passara, porque conseguia sentir o princípio de uma grande calma a dominá-lo. Queria poder gritar uma só vez a sua dor, antes de ficar indiferente e incapaz de sentir desgosto ou ressentimento."

Estamos no limiar da expressão religiosa. Sucedem-se os gestos que, a repetir-se, podem virar rituais tão inexplicáveis como o mistério que habita Joseph. Cada irmão seu, Thomas (e Rama), Burton (e Harriet) e Benjy (com Jennie), vivem uma vida a seu geito, seguindo tendências de caráter, princípios de vida e manifestações "religiosas" completamente distintas. Mas também o mestiço Juan (com Alice). Habitando um espaço em si mesmo "ecuménico" como seria a Calfórnia dos anos 30 do século XIX, por aqui passam os católicos hispánicos, os índios, os mestiços e, claro, os luteranos...

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por JNobre

Sábado, 02.06.18

"As Primeiras Coisas" de Bruno Vieira Amaral

Uma amostra: "Saí para o mundo convicto da vitória e regressei, cabisbaixo, com o fardo do meu fracasso. Não importa detalhar o insucesso. Direi apenas que a queda não foi tão espetacular que me levasse a acreditar no destino, nem tão imperceptível que não me envergonhasse. (...) Digam o que disserem, encontrar consolo na arte é um razoável substituto da religião."

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por JNobre

Sábado, 17.09.16

"Jesus Cristo bebia cerveja" de Afonso Cruz

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Cruz, Afonso. 2015. Jesus Cristo bebia cerveja. Penguin. Lisboa

É o primeiro livro de Afonso Cruz que leio. Nada sei, por agora, do autor (suas origens, demandas, percurso pessoal...) o que me permite lê-lo com alguma ingenuidade. Sempre gostei deste estado de relativa ignorância na abordagem das coisas, das viagens às "leituras" de todo o tipo de experiências, emocionais ou intelectuais. Mas esta é uma postura com riscos evidentes; desde logo, pela possibilidade de não percecionarmos "bem" a realidade, a partir da nossa posição subjectiva, sempre enviesada. Vale a pena correr o risco. Afinal, não há verdadeiramente leituras que não sejam subjectivas, enviesadas, aculturadas e... pré-conceptuais. Vamos lá.

O meu sentimento dominante é a surpresa. Surpreende-me o ritmo certo dos curtos capítulos, o aparente sincretismo das frases mas também o desenho, o traço curto e preciso, as cores (apenas) necessárias; os quadros sucedem-se como aguarelas que surgem de cada vez que retomamos a leitura. Surpreendem-me ainda as metáforas, o vai-vem entre um certo naturalismo e a abstração intelectual protagonizado, sobretudo, pela figura do professor Borja; as questões suscitadas, do âmbito da filosofia, ciência e religião, são certeiras, acutilantes, e propõem-nos pertinentes caminhos de investigação.

Como desconheço o percurso de Cruz nada sei da sua relação com Saramago; mas este anda por ali e pode surgir, discreto (como Hitchcock quando se perfila nos filmes que produs). Há uma tonalidade neo-realista neste romance rural, alentejano, que me faz lembrar Saramago (a vários títulos) mas também o Virgílio Ferreira de "Vagão Jota" e o Altino do Tojal do "Os Putos". A aproximação a Saramago faz-se também no debate das questões mais profundas, as inquietações que emergem da incessante busca de esclarecimento relativas, por exemplo, ao mistério de Deus e da Morte. É uma abordagem incontornavelmente marcada pela cultura, dominante entre os portugueses, que à falta de melhor, poderíamos designar por "catolicismo". Com efeito, as questões suscitadas em "Jesus Cristo bebia cerveja" fizeram-me lembrar algumas páginas de "Caim" e de "O Evangelho segundo Jesus Cristo", dois conhecidos títulos da extensa obra de José Saramago.

Muitas são as frases, parágrafos ou sequências que gostaria de aqui reproduzir a título de "amostra". Escolho a que segue por se referir a Borja, personagem que melhor parece traduzir a procura de sentido deste livro, e por ilustrar muito bem essa clivagem, sempre presente ainda que nem sempre clara, entre o mundo da ciência e o mundo da espiritualidade ou, melhor, da emoção:

"O professor Borja e Celeste [sua mulher] passaram a acreditar nesse Nada. O espaço deixado pelo desaparecimento da filha [Margarida, morta por envenenamento acidental] não fora ocupado pela natureza (essa natureza que abomina o vazio e, no entanto, é incapaz de preencher o Nada que amorte deixa). Há muita incompetência na forma como como a natureza preenche os espaços, falta-lhe capacidade para se alojar nos lugares metafísicos. O professor Borja desejaria poder preencher o seu vazio com radiações, partículas e subpartículas do átomo, lugares-comuns ou mesmo telenovelas mexicanas, mas nada entra nesse espaço de dor. O adágio em latim, natura abhorret vacuum, essa frase que diz que a natureza não gosta nada do vazio, deveria ser outro: natura latinam linguam nono loquitur, ou seja, a natureza não percebe nada de latim.

Celeste interrogava-se sobre se Deus teria sofrido tanto quanto ela. Questionava se Deus, depois da desobediência dos seus filhos, [o "pecado" de Margarida],  se teria agachado na casa de banho do Céu, seco pelas lágrimas mais intensas que se pode chorar, e arrancado os cabelos (que estão todos contados). Ou teria Ele vivido sem culpas, com a justifificação do livre-arbítrio, esse engodo fatal? Para Celeste haveria alguma desculpa possível? Ela sentia que não. Deus tinha a Teologia a suportar os seus erros, o livre-alvedrio conveniente e um advogado como Santo Agostinho, mas ela só tinha um cônjuge pararleo a si mesmo."

Não se pense, apesar do que antecede, que esta ficção se fica por um registo introspectivo, suscetível de aborrecer determinado tipo de leitores. Pelo contrário. A estória pode agradar a quem aprecie o registo "policial" já que envolve a intriga e o crime, com o seu final surpreendente.

 

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